Fitofisionomias

              A vegetação do Cerrado é distribuída em mosaico, ou seja, ocorrem manchas de diferentes fitofisionomias lado a lado ao longo da paisagem, promovendo a alta diversificação local da biota. Essa visível variação da vegetação é devida a diversos fatores, como distância dos cursos d'água, profundidade do solo e do lençol freático, composição do solo, frequência de queimadas, clima regional, entre outros.

             A classificação das formações vegetais do Cerrado é baseada na estrutura da vegetação, ou seja, nas formas de vida predominantes (ervas, arbustos ou arvores), porte e densidade das árvores. Essas características nos permitem separar as áreas naturais do Cerrado em formações campestres (ou campos), savânicas e florestais. Cada formação vegetal apresenta divisões mais refinadas, que são o que chamamos de fitofisionomias. 

 

CAMPOS

             Os campos são compostos predominantemente por gramíneas, podendo ter poucas árvores e arbustos espaçados. A presença ou ausência dessas espécies lenhosas e sua densidade caracterizam as diferentes fitofisionomias campestres. Os campos ocorrem em um gradiente de campo limpo a campo sujo, normalmente associados com solos rasos, onde o estabelecimento de árvores é dificultado. Os campos sobre afloramento de rochas, são chamados campos rupestres. Quando há afloramento do lençol freático e encharcamento do solo, ocorrem os campos úmidos, mas que se associados a presença do buriti (Mauritia flexuosa), formam as veredas.

 

fitofisionomia

                     Legenda: Definição e diferenciação das diferentes fisionomias do Cerrado, retirado do site da  WWF.

 

FLORESTAS

             No outro extremo, as formações florestais são compostas predominantemente por árvores formando um dossel fechado, ou seja, as copas das árvores se tocam continuamente. Nessa formação, as ervas e arbustos são praticamente inexistentes. Entre as florestas, as diferenças se dão em grande parte pela deciduidade, ou seja, a perda das folhas durante a estação seca, que também é uma consequência das espécies que compõem essas fitofisionomias.

            As florestas sempre-verdes estão associadas aos cursos d'água, e são classificadas em matas ciliares, quando bordeiam os rios e riachos, ou de galeria, quando as copas das arvores dos dois lados do curso d'água se tocam formando uma galeria, como o nome sugere.

          As florestas deciduais, ou matas secas, ocorrem em solos férteis associados aos afloramentos calcários. Nessa fitofisionomia, as árvores perdem as folhas na estação seca.

        As matas semi-deciduais ocorrem em encostas, ou em zonas de transição entre fitofisionomias florestais, sendo compostas tanto por espécies sempre-verdes quanto decíduas. Dentre as fitofisionomias florestais, o cerradão se destaca por ter composição florística similar a das formações savânicas, e algumas vezes as duas ocorrem lado a lado. Em parte, a diferença estrutural dessas fitofisionomias é decorrente de diferenças na frequência de queimadas a que as áreas estão sujeitas.

 

SAVANAS

             As fitofisionomias savânicas são compostas por uma camada continua de gramíneas, com árvores e arbustos espaçados, em maior ou menor densidade. As fitofisionomias cerrado ralo, típico e denso são as mais representativas, e também predominantes na paisagem do Cerrado, conferindo o nome ao bioma. As veredas e palmeirais são fitofisionomias savânicas diferenciadas, pois apesar do contínuo estrato graminoso, a presença das palmeiras de buriti caracterizam-nas como savânicas.

 

            A classificação das fitofisionomias do Cerrado é importante para entendermos a distribuição e ecologia dos organismos que habitam esses ambientes. As diferenças estruturais da vegetação determinam o microclima, a ciclagem de nutrientes, a disponibilidade de recursos para a fauna, entre outros fatores determinantes para a ocorrência dos organismos.

 

 

Renata D. Françosofoto tata
Engenheria Florestal e Dra. em Ecologia. Atualmente é bolsista de
pós-doutorado na Coleção Herpetológica da Universidade de Brasília,
e estuda biogeografia e ecologia da vegetação arbórea do Cerrado.